terça-feira, 31 de janeiro de 2012

O Chato




No Dicionário Michaelis você encontra, na definição do verbete chato a seguinte colocação: CHATO (linguagem popular) - importuno, maçante, inconveniente.
E, na vida você encontra pessoas que lhe são caras, boas pessoas, pessoas que você até gosta - e muito - mas que são chatas! E como ninguém é "de ferro", depois de um tempo, ou dependendo do momento que você está vivendo (mais tensão, acúmulo de trabalho, preocupações, etc.) você passa a evitar o convívio frequente com estas pessoas - porque este convívio "pesa". E o que é mais terrível: muitas vezes somos chatos sem jamais termos parado para analisar um pouco este nosso comportamento e assim, anulando toda e qualquer possibilidade de mudarmos este nosso aspecto comportamental.

Esta semana proponho a nós todos um pequeno teste. Feito o teste, resta-nos refletir um pouco sobre o resultado e... mudar imperiosamente de atitude!

  • Você é uma pessoa que todo o tempo está oferecendo suas opiniões a terceiros, ou mesmo impondo-as, sem que elas lhes tenham sido solicitadas? 
  • Como é o seu grau de variedade de assuntos? Aborda assuntos variados, conversa sobre cultura geral, atualidades, amenidades ou será que você é como a música de João Gilberto, o "Samba de uma nota só"? - só fala sobre religião, ou sobre trabalho, ou sobre os filhos, netos e etc?
  • De um modo geral, quando as pessoas lhe perguntam se está tudo bem você tenta passar a elas que sim, está tudo bem - e deixa para "abrir seu coração" com aquelas poucas pessoas que lhe são íntimas ou vai logo "despejando" tudo o que não vai muito bem e justifica que foi um desabafo?
  • Você está sempre de bom-humor? É claro que ninguém é de ferro mas... em sete dias de uma semana seu estado pende mais para o bom-humor ou para o astral mais sombrio?
  • Como é que você lida com o diferente: com curiosidade e vontade de fazer com que o desconhecido lhe seja apresentado ou de forma cautelosa e preconceituosa, sem se dar a chance de, pelo menos, conhecer o que não lhe é familiar?
  • Você é uma pessoa grata - e expressa sua gratidão às pessoas ou é daquelas pessoas que, passadas as turbulências sempre acaba chegando à conclusão que poderia ter sido um pouco mais ajudada para que o problema tivesse sido superado mais rapidamente ainda?
  • Você sabe tudo? Acha que tudo o que é seu é o certo e que deveria ser adotado por todo o restante do mundo?
  • Você tenta sempre manter uma boa aparência e cuidar de si mesmo?
  • Diante de um convite, de uma oportunidade de algo gratuito, como é sua atitude? Aproveita e deleita-se com a situação dentro de limites ou acha que "como é de graça, quanto mais você conseguir aproveitar, melhor para você"? 
  • Você costuma retribuir os convites que recebe (e aos quais adere e aceita) com que frequência - grande, média ou raramente?
  • Com que frequência, por exemplo, num restaurante, a comida costuma não lhe agradar - sempre, raramente, quase nunca ou nunca?
  • Qual é o seu "grau de abertura" para experimentar comidas típicas, frutas exóticas, bebidas diferentes?
  • Sabemos que fumar hoje é algo politicamente incorreto mas... qual é o seu grau de tolerância com os que fumam - pequeno, médio ou nenhum? Além disso, com que frequência você aplica aos amigos e conhecidos aqueles já tradicionais "sermões" sobre todos os malefícios que o fumo causam em seus dependentes?
  • Em festas e coquetéis, com que frequência você costuma "passar da medida" no assunto bebidas alcoólicas?
  • Num jantar com amigos, quando todos começam a servir-se você é daquelas pessoas que sempre "puxa a fila" e tenta garantir para si mesmo o quinhão a que acha que tem direito?
  • Em casa de amigos, costuma sugerir mudanças na decoração sem que isso lhe tenha sido solicitado?
  • Quantas vezes você já repetiu, para o mesmo grupo de pessoas, as suas fantásticas experiências em viagens que fez ao exterior? Ou ainda, já percebeu se, sempre que tem uma chance, toca no assunto "viagens para fora do Brasil"?
  • Costuma atribuir a terceiros as culpas pelos seus problemas e eventuais desacertos?
  • Tem sempre, na ponta da língua, uma justificativa para alguma atitude que teve e que sabe, será cobrada por ela?
  • Quantas vezes costuma ligar para amigos e parentes somente para saber se eles estão bem? Ou será que só faz esses chamados quando precisa de alguma coisa?


Abaixo vão algumas pequenas reflexões sobre as questões. Cada uma delas, certamente, é assunto para um artigo - e assim faremos. Hoje, respostas curtas e objetivas para sua auto-avaliação...

  • Se você, o tempo inteiro, emite opiniões sem que elas lhes sejam solicitadas, cuidado! Você é chato mesmo - e o que é pior - daqueles chatos metidos à sabe-tudo... Guarde suas opiniões para si mesmo ou para aqueles momentos em que elas lhes forem solicitadas.
  • Cuidado também com sua conversa: você só fala sobre trabalho? Sobre filhos ou netos? Ou, pior ainda, sobre a vida dos outros? Acho que está na hora de começar a ler mais e tomar mais consciência das coisas e do mundo ao seu redor: o seu papo é chatíssimo e dá sono em quem não consegue fugir de você e tem de ouvi-lo...
  • Essa questão também é complicada! Quem gosta de ouvir problemas (nem sei se gosta mas, pelo menos, ganha para isso...) é analista! Tente manter seu astral lá em cima, tente ser positivo e ver as coisas sob um prisma bom - "astral de urubu" é típico de gente chata... E, eventualmente você pode estar mesmo sofrendo de algum problema mais sério: depressão é doença - tem tratamento e deve ser tratada. Abra-se com seus amigos mais íntimos e, ainda assim, não abuse!
  • Essa questão tem ligação direta com a questão acima - se você vive em estado de alma sombrio, além de afastar as pessoas de você, talvez você precise mesmo de ajuda médica - o mau-humor constante é doença. E algumas vezes ele também significa insensibilidade: você tem todas as coisas que poderiam faze-lo viver bem e não se dá conta disso: saúde, trabalho, refeições, amigos, um teto que lhe abriga - o que é isso companheiro? O pote de ouro atrás do arco-íris é lenda... Seja mais sensível e sorria mais! E se não consegue, por mais que tente, peça ajuda médica.
  • O diferente faz com que você tenha aquela atitude de "cuidado, reserva e desdém"? Xi! Você é preconceituoso - isso quer dizer que, além de chato, você muitas vezes é mal educado... Opções sexuais diferentes, opções religiosas distintas da sua, raças diferentes, nível econômico diferente - nada disso quer dizer que você está certo em sua escolha e os outros são os errados: as pessoas são diferentes umas das outras. E isso faz a vida mais rica e mais interessante...
  • Expresse mais sua gratidão: aos que o ajudaram, a quem o serve, aos amigos, ao companheiro ou companheira que você tem ao seu lado. Seja econômico em críticas, nas cobranças e acusações. Esbanje agradecimentos - ao invés de cobrar dos outros, faça a sua parte também: você verá que nunca mais haverá necessidade de cobranças de espécie alguma. Quanto mais você souber "dar-se" na vida, mais receberá em retribuição...
  • O sabe-tudo já nem entra mais na categoria chato - vai para uma pior que é a dos chamados "seres humanos mala sem alça"... Seja mais humilde e perceba que, por mais culto que você possa ser, sempre há o que aprender!
  • Cuide bem de você mesmo: quem tem auto-estima elevada trata de cuidar-se. E desperta nos outros vontade de estar perto de você. Se você vive "no relaxo", descuidado, com aparência ruim... cuidado! Ninguém gosta de olhar para a parte menos bela da vida - e não confunda o que estou falando aqui com gastar dinheiro para isso: cuidado pessoal nada tem a ver com roupas caras, bonitas... Cuide de sua pele, de seus cabelos, dos dentes, mantenha-se limpo, perfumado. O sábio Joãozinho Trinta dizia que "o povo gosta da beleza" - e acho certíssimo. Ninguém precisa necessariamente parecer-se com uma miss ou um galã de cinema para ser bonito: conheço tantas pessoas bonitas e que, hipoteticamente, seriam consideradas feias pelos padrões impostos pela mídia... Bonito é quem cuida de si mesmo!
  • Sobre sua atitude em restaurantes: diz o ditado quem "gente educada tem boca educada". Assim, cuidado se você vive reclamando de comida, se não prova nada além daquilo que é seu cotidiano - seja menos chato...
  • Sobre sua atitude ante convites: saiba usufruir os convites e as festas e todas as boas ocasiões que a vida lhe proporcionar. Mas saiba faze-lo com equilíbrio e parcimônia: é tão feio quando a gente encontra pessoas que, diante de um convite ou da possibilidade de uma refeição mais sofisticada saem correndo à frente de todos para servirem-se primeiro, passam "da medida" na comida e na bebida (...só porque "é de graça"), se percebem que a bebida é uma bebida melhor ou mais sofisticada não "largam o copo". Essa é a atitude típica dos chamados "aproveitadores de ocasião". Acho que por causa de gente desse tipo é que acabamos assistindo a todos esses descalabros públicos, à roubalheira que nos choca, aos "trens da alegria" nas viagens oficiais do Governo. Credo!!! Além de chatíssimo, quem é assim denota grave falha de caráter, conceitos éticos bem duvidosos e uma tremenda falta de educação...
  • Ser tolerante é uma virtude. Assim, por mais que o cigarro ou o charuto o desagradem, saiba expressar seu desconforto com elegância: saia de perto da pessoa que está fumando, ofereça um local aberto como alternativa para que a pessoa fume. Acho que todos os fumantes, sem exceção, estão conscientes do quão politicamente incorreto é este vício nos dias de hoje, dos inúmeros males que o fumo acarreta à saúde (deles e de quem é passivo) mas... vício é sinônimo de dependência química: os tratamentos para se livrar desse tipo de mal são um pouco demorados sempre. Não conheço um fumante hoje em dia que não se incomode com o fato de ser fumante: todos (ou melhor, a maioria deles) querem ou preocupam-se em como fazer para abandonar este vício. Seja mais tolerante e não aumente ainda mais a ansiedade daqueles que fumam com sermões fora de hora ou overdose de comentários, está bem?
  • O fato de você, privilegiadamente, conhecer metade do planeta Terra não o faz melhor nem mais importante que ninguém. Assim, quando a ocasião for apropriada, um comentário sobre esta ou aquela viagem que você fez será bem-vinda. Do contrário você se parecerá com aquelas pessoas que parecem que, quando viajam, só o fazem para poder dizer aos outros mais tarde que o fizeram: por mais dinheiro que se empenhe em viagens assim, quem tem este tipo de atitude denota claramente aos outros que sofre do pior tipo de pobreza que pode existir: a de espírito - porque, para esta pobreza, dificilmente existe a possibilidade de mudança de estado... E o pobre de espírito é, inegavelmente, um chato que tolerância nenhuma, por maior que ela seja, ajuda a "engolir". 


Bem, as respostas estão aí. Se você pecou em um ou dois itens, é normal: todos nós, em algum momento de nossas vidas, somos um pouco chatos - e sempre é tempo de nos preocuparmos com isso e melhorarmos nossa maneira de ser. Se as respostas às perguntas foram ruins para você em mais que três itens, cuidado! Você é muito chato e precisa mudar urgentemente...! Essa mudança só acontecerá se você começar a se auto-avaliar com mais frequência, perceber que estas mudanças serão positivas para você e para todos os que o cercam, entender que isso fará de você uma pessoa mais querida e mais bem-vinda aos olhos dos outros. Além de, é claro, alguém mais bem-educado! Reflita sobre as respostas dadas longamente. Tudo o que pudermos fazer para melhorarmos, amadurecermos e crescermos ao longo da vida é sinônimo de enriquecimento verdadeiro. Se, além disso, pudermos ainda cuidar de tornarmo-nos pessoas agradáveis e bem-vindas a todos aqueles que conosco convivem, melhor para nós: o chato, além de mal-educado, tem usualmente um final meio triste: acaba sozinho!
Autora: Célia Leão (www.etiquetacelialeao.com.br), publicado com autorização.

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