sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Meu pai, meu adorável e divertido imprevisível


Ontem fez 25 anos que Raul Seixas faleceu. Na próxima semana completa-se 13 anos do falecimento de meu pai: um homem afetuoso, divertido mas, por outro lado, conservador e bastante radical em suas convicções (pensando bem... agora sei de quem herdei algumas características... rs).
E eis que um dia, presencio o seguinte diálogo entre ele e minha mãe:
- "Zélia, estou chateado: o Raul está internado novamente e não está bem!".
Ouvi aquilo e, com meus botões pensei que era um dos amigos dele dos happy-hours de todas as sextas-feiras. 
Religiosamente ele e sua turma se encontravam numa padaria próxima à USP para papearem e beberem suas cervejas: um engenheiro, um outro militar, um executivo (chamado Raul), um arquiteto e meu pai, um homem conservador e inflamado defensor de suas posições igualmente conservadoras.
Assim que ele sai da sala pergunto à minha mãe o que é que havia acontecido com Seu Raul (era assim que nos referíamos ao amigo de meu pai que, vez ou outra, aparecia lá por casa deles para um papo).
E minha mãe então me responde " - Com seu Raul está tudo bem, seu pai estava falando era de Raul Seixas".
E, passado o susto inicial, quase morri de rir pensando no ser eclético, querido e divertido que era meu pai - um caretão conservador e conversador, amigo de muito tempo do Maluco Beleza, figura diametralmente oposta a ele !
Raul se foi antes deles todos mas, os amigos de todas as sextas-feiras sentiram muito a perda do amigo de discussões, risadas, bate-papos filosóficos. E cervejas.
Tenho saudade de meu pai todos os dias, mas ontem, quando ouvi todo mundo comentando sobre Raul Seixas, a saudade foi maior ainda.
Digo sempre que minha mãe me educou "tecnicamente". 
E meu pai me ensinou a ser gente.
Em seu velório me lembro das tantas pessoas absolutamente diferentes dele e de nós, que ali estiveram para se despedirem e prantearem Seu Leão, um italianão que falava alto e reclamava, mas estendia a mão para ajudar todo aquele que a ele procurasse.
Que Deus me ajude a ser eclética exatamente como ele, que transitava em todos os lugares e por todos os níveis com a mesma alegria e a mesma naturalidade, construindo um rastro de boas relações por onde quer que ele passasse.
Isso é viver a vida. Isso é saber viver!
Saudade do meu "imprevisível caretão beleza"...
Autora: Célia Leão (www.etiquetacelialeao.com.br), publicado com autorização.

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